A feira popular (lumu) de Nhacra, realizada à sombra de poilões, figura-se entre as mais procuradas do país, devido a sua localização geográfico. É o mercado periódico de maior trocas comerciais de diferentes produtos agrícolas, pesqueiros, roupas e outros utensílios.
Surgiu para preencher o vazio deixado pelo mercado convencional local, facto que levou a administração, em colaboração com a população, decidir fixar um período no decurso de cada semana para trocas comerciais.
Lumu é um mercado informal praticado quase em maioria das cidades do interior, e não só. Para evitar coincidências, foram fixados calendários, onde cada zona tem um dia específico, isto é, para permitir que as pessoas preparassem de melhor forma possível.
No entanto, a feira-popular de Nhacra tem contribuído grandemente no crescimento de renda e na estabilização da economia de famílias daquela zona, quer para os camponeses, assim como para os que vivem nos centros urbanos, além constituir fonte de receitas para a administração local.
Dada a sua importância na vida das populações, consegue arrastar muitas pessoas. Dantes funcionava num espaço pequeno, quase a metade de um campo de futebol, mas hoje, com aglomeração de pessoas vindas de diferentes cantos do país até do estrangeiro, o espaço fica superlotado, o que faz com que algumas pessoas se armem seus negócios na berma de estrada.
As atividades são praticadas a céu aberto, sem nenhuma estrutura de proteção contra sol ou chuva.
Segundo informações apuradas no local, há uns anos, as mulheres constituíam maioria, mas atualmente os jovens, sobretudo rapaz decidiram entrar nesse mercado informal como alternativa de emprego.
Ambiente matinal
As primeiras horas de lumu são marcadas com descargas de mercadorias, ocupação de espaço, montagem de barracas improvisadas, entre outras atividades.
Pode aparecer muito cedo, mas é o período de grande movimento e de maior negócio, porque é a hora em que os produtores e as retalhistas começam a chegar ao local, tornando o ambiente um pouco hesitado.
Enquanto os produtores preparam para organizar seus negócios, as retalhistas pressionam com o intuito de poder comprar os produtos num preço relativamente baixo. Tudo é feito a pressa, para influenciar os preços.
Por isso, antes de os carros estacionarem-se, as retalhistas já estão à volta a selecionar os produtos da sua preferência, encetando logo o negócio. Portanto, é um ambiente de grande negociação entre produtores e retalhistas sobre o preço dos produtos.
Nessas negociações, as mulheres camponesas alegam que vender uma bacia de inhame, batata, calabaceira ou de qualquer outro produto num valor inferior a 10 mil francos CFA, é sinónimo de oferta, porque as despesas relacionadas à produção são elevadas.
Aliás, dizem que contraem dívidas no período de lavoura, pelo que vender o produto ao preço proposto pelas retalhistas não satisfaz os compromissos assumidos.
Por seu lado, as retalhistas consideram o preço aplicado pelos produtores de bastante alto. Entretanto é esse o ambiente que carateriza o lumu, sobretudo nas primeiras horas de manhã.
.Cumprimento das orientações do governo
Quanto a instrução dada pelo Primeiro-Ministro, Rui Duarte Barros, aos administradores sobre a identificação de novos espaços para a realização de lumus, o administrador do Setor de Nhacra já começou a desencadear uma campanha de sensibilização de pessoas, no sentido de evitarem de vender perto de estrada. “Neste assunto estão envolvidas as autoridades polícias, jovens e anciões”.
A propósito, Caramó Djaura disse que a ideia do chefe do governo é bem-vindo, porque visa proteger e salvar vidas, portanto, enquanto subordinado, vai tudo fazer para cumprir com as instruções dadas.
“Temos visto as pessoas a vender na berma de estrada, situação que coloca suas vidas em perigo. Vamos trabalhar para informá-los que agora em diante é expressamente roibido vender perto de estrada”, explicou.
Prometeu que na próxima semana vão reorganizar o lumu, onde cada produto vai estar no seu respetivo lugar, isto para facilitar a circulação e a compra. Também, vão retirar todas as pessoas que vendem nas bermas de estrada.
“Estamos plenamente de acordo com as orientações dadas, mas só que o momento não é oportuno, ou seja, identificar novo espaço longe do centro, terá impacto negativo, porque as pessoas vão começar a desacreditar e oferecer resistência, o que não vai ser bom para todos”, observou.
No entanto, revelou que, nesses últimos meses, afluência diminuiu bastante, devido à má campanha agrícola e a degradação da estrada, então com essa decisão de mudar de lugar também pode ter seus reflexos.
Inquietação de utentes
Ibraima Baldé, comerciante, disse que qualquer medida que visa garantir segurança de pessoas é de louvar, portanto, enquanto vendedor, está plenamente de acordo com a decisão, só que é bom pensar num local estratégico, que não venha acarretar outros custos.
Segundo ele, já têm problema de estrada que não facilita e se vier acrescer uma outra situação, isso vai levar as pessoas a desistirem dessa atividade, porque, nos últimos anos, houve quebra no negócio.
Disse que qualquer decisão precipitada pode ter repercussão negativa na vida da população, assim como para o Estado, porque a Guiné-Bissau é um país com a renda baixa, cujo salario não chega para atender as necessidades básicas de famílias.
Quem também comungou da mesma ideia foi o cidadão Rui Una, que, no seu entender, afastar o lumu do centro da cidade/vila vai gerar confusão. No seu ponto de vista, a melhor medida é proibir pessoas a vender perto de estrada. “Aqui temos espaço suficiente para armar negócios, só que falta a organização”.
Disse que lumu tem uma importância económica no setor, visto que é a zona onde o comércio não tem grande influência, devido a tradição e a cultura da etnia maioritária. Por isso, foi pensado na criação de mercado informal para incutir na mente das pessoas a relevância de trocas comerciais.
Ainda sobre o assunto, Dabbel Candé, vendedeira de peixe, explicou que dantes conseguia arrecadar mais de 100 mil francos CFA em cada lumu, mas agora nem sequer consegue vender 50 mil.
Disse que só esta situação por si está a desencorajar muitas pessoas, isso para não falar da transferência de lumu para outro espaço. “Peço ao governo e aos administradores para ponderarem sobre este assunto, porque se não vão acabar com a essência desse mercado informal.
No seu ponto de vista, lumu é um modelo de negócio excecional, por isso, tem que estar num local de fácil acesso, tendo exortado o executivo a recuar da posição e adotar outras medidas corretivas.
Enquanto isso, Quinta Jabula, retalhistas, disse que não tem objeção quanto ao espaço e, para ela, o essencial é deixar lumu funcionar tal como funcionava, porque não faz a diferença.
“Na minha modesta opinião, o que o governo deve fazer é regular o preço dos produtos a nível nacional. Nós, enquanto feirantes, queremos a intervenção de Estado para facilitar o comércio”, sublinhou.
Disse que o preço praticado no lumu é muito elevado, onde a bacia de inhame que custava 10 mil passou a custar 12 mil francos CFA, enquanto de calabaceira que custava cinco mil passou para oito mil francos CFA, sem contar com o transporte.
Para Maia Carlos Indi, retalhista, a identificação de novo espaço distante da cidade vai criar dificuldade nos seus negócios, porque as estradas do país não estão em condições. “Só para chegarmos aqui custou-nos um sacrifício enorme, agora mudar para um outro espaço, certamente não vai ser dentro da cidade, porque não vejo um espaço que pode ser readaptado para realizar lumu”.
Bubacar Djaló, vendedor de roupas usadas, disse que frequenta quase todos os lumus do país, e todos são praticados dentro da cidade, portanto, qualquer medida pode mexer com a dinâmica desse mercado.
Alfredo Saminanco